Classe Chondrichthyes
Os tubarões, raias e quimeras (peixes de águas profundas, também são designados peixes-rato) desta classe (gr. chondros = cartilagem + ichthys = peixe) são os vertebrados vivos mais primitivos com vértebras completas e separadas, mandíbulas móveis e barbatanas pares.
Este grupo é antigo e representado por numerosos restos fósseis. Pertencem-lhe alguns dos maiores e mais eficientes predadores marinhos. Todos possuem um esqueleto cartilagíneo, dentes especializados que se renovam ao longo da vida e uma pele densamente coberta por escamas em forma de dente.
Praticamente todos são marinhos, embora existam espécies de tubarões e raias que penetram regularmente em estuários e rios, e, em regiões tropicais, espécies de água doce.
Todos os peixes cartilagíneos são predadores, embora os filtradores também ingiram fitoplâncton. Neste caso existem projecções rígidas dos arcos branquiais, que funcionam como filtros. Grande parte da sua dieta é composta por presas vivas, embora consumam igualmente cadáveres, quando disponíveis.
A maioria dos tubarões não apresenta mais de 2,5 m de comprimento mas alguns atingem 12 m e o tubarão-baleia 18 m, sendo estes os maiores vertebrados vivos, com excepção das baleias.
As raias são igualmente pequenas, com cerca de 60-90 cm de comprimento mas a raia-jamanta atinge 5 m de comprimento e 6 m de envergadura.
Os tubarões, com o seu corpo fusiforme e aerodinâmico, têm grande interesse biológico pois apresentam características anatómicas básicas presentes em embriões de vertebrados superiores, nomeadamente:
Esqueleto cartilagíneo – sem ossos verdadeiros mas compostos por cartilagem resistente e flexível, mais ou menos reforçados por depósitos calcários, o esqueleto é composto por um crânio ligado a uma coluna vertebral e cinturas peitoral e pélvica. A mandíbula (não fundida ao crânio) e a maxila estão presentes. A notocorda é persistente nos espaços intervertebrais. Algumas espécies possuem coluna vertebral rija, em tudo semelhante à dos peixes ósseos. Este tipo de esqueleto apenas suporta animais com mais de 10 metros de comprimento em meio aquático, cuja densidade é superior à do ar;
Escamas placóides – a pele é rija e está coberta com escamas semelhantes a dentes (são compostas por uma placa de dentina na derme, revestida por esmalte) com um espinho orientado para trás, bem como numerosas glândulas mucosas. Este revestimento confere à pele uma textura de lixa, o que torna o animal mais hidrodinâmico. Algumas espécies de raias apresentam escamas grandes e espinhosas, enquanto outras não apresentam escamas de todo;
Barbatanas pares e impares – além das tradicionais barbatanas medianas, surgem barbatanas pares (peitorais e pélvicas), todas sustentadas por raios dérmicos. Ao contrário das barbatanas dos peixes ósseos, as barbatanas dos tubarões são rígidas, não podendo ser dobradas ou flectidas.
A origem das barbatanas pares é pouco clara. Alguns autores consideram-nas derivadas de dobras longitudinais latero-ventrais sustentadas por raios, teoria que parece apoiada por estudos do desenvolvimento embrionário de tubarões actuais e de peixes fósseis. O anfioxo apresenta igualmente dobras deste tipo, que se unem á cauda.
Dado que estes animais são mandibulados, têm necessidade de orientar o corpo em relação ao objecto a morder. Assim, surgem as barbatanas, tanto pares (impedem o balançar cima/baixo) como impares (impedem o rolar esquerda/direita). Nos tubarões machos geralmente as barbatanas pélvicas apresentam órgãos copulatórios designados clásperes.
A cauda é heterocerca (com lobos assimétricos, pois a coluna vertebral penetra no lobo dorsal maior). Nas raias e afins a cauda é longa e fina, podendo terminar num espinho farpado com glândulas de veneno, como forma de defesa;
Celoma – a cavidade do corpo é perivisceral, forrada pelo peritoneu e subdividida por uma membrana, separando o coração das restantes vísceras;
Sistema nervoso – encéfalo distinto e órgãos sensoriais muito desenvolvidos, que lhes permitem localizar presas mesmo quando muito distantes ou enterradas no lodo do fundo. Estes órgãos incluem:
narinas localizadas ventralmente na extremidade arredondada da cabeça, capazes de detectar moléculas dissolvidas na água em concentrações mínimas;
ouvidos com três canais semicirculares dispostos perpendicularmente uns aos outros (funcionando como um órgão de equilíbrio, portanto, tal como em todos os vertebrados superiores);
olhos laterais e sem pálpebras, cuja retina geralmente apenas contém bastonetes (fornecendo uma visão a preto-e-branco mas bem adaptada á baixa luminosidade);
linha lateral, um fino sulco ao longo dos flancos contendo muitas pequenas aberturas, contém células nervosas sensíveis á pressão (algo como um sentido do tacto á distância);
ampolas de Lorenzini, localizadas na zona ventral da cabeça, são outros canais sensitivos ligados a pequenas ampolas que contém electrorreceptores capazes de detectar as correntes eléctricas dos músculos de outros organismos;
Sistema digestivo – a boca é ventral com fileiras de dentes revestidos de esmalte (desenvolvidos de escamas placóides).
Os dentes estão implantados na carne e não na mandíbula, sendo substituídos continuamente a partir da parte traseira da boca, à medida que são perdidos. A forma dos dentes revela os hábitos alimentares dos animais, dentes pontiagudos e serrilhados nos tubarões, que os usam para agarrar e cortar, e pequenos e em forma de ladrilho nas raias, que os usam para partir as carapaças e conchas dos moluscos e crustáceos de que se alimentam no fundo.
As narinas não comunicam com a cavidade bucal mas com a faringe.
O intestino apresenta válvula em espiral (para aumentar a área de absorção) e fígado, grande e muito rico em óleo o que confere grande flutuabilidade, chegando por vezes a compor 20% do peso do corpo. No entanto, em algumas espécies tal não é suficiente, pois se pararem de nadar afundam-se. O ânus abre para a cloaca;
Sistema circulatório – coração com 2 câmaras (aurícula e ventrículo) por onde circula apenas sangue venoso;
Sistema respiratório – as brânquias estão presas à parede de 5 a 7 pares de sacos branquiais, cada um com uma abertura individual em forma de fenda, abrindo á frente da barbatana peitoral nos tubarões ou na superfície ventral das raias. Nas quimeras apenas existe uma fenda branquial.
Os sacos branquiais podem contrair-se para expelir a água ou, como acontece na maioria dos tubarões, o animal usa uma espécie de respiração a jacto, nadando activamente com a boca e as fendas branquais abertas, mantendo um fluxo constante de água. Por esse motivo, é frequente os tubarões afogarem-se quando presos em redes de pesca perdidas.
Geralmente existe um par de espiráculos atrás dos olhos, em ligação á faringe, que, nas espécies bentónicas, permitem a entrada de água sem detritos para as brânquias. Não existe bexiga natatória;
Sistema excretor – rins mesonéfricos;
Ectotérmicos;
Reprodução – os tubarões e raias têm os sexos separados, gónadas tipicamente pares, em que os ductos abrem na cloaca e a fecundação é interna. Os clásperes, barbatanas ventrais modificadas, são introduzidos na cloaca da fêmea e o esperma escorre pelo canal formado pelas duas estruturas unidas.
Podendo ser ovíparos (ovos são libertados envoltos em cápsulas semi-rigídas), vivíparos (jovens desenvolvem-se dentro de uma estrutura semelhante a uma placenta, o que lhes permite ser alimentados directamente pelo corpo da mãe) ou ovovivíparos (retêm os ovos no interior da fêmea, nascendo filhotes completamente formados, cauda primeiro), produzem ovos são muito ricos em vitelo mas sem anexos embrionários. O desenvolvimento é directo, não existindo nunca estados larvares. Os filhotes nascem com os dentes funcionais e são capazes de caçar de imediato, embora, devido ao seu tamanho, sejam eles próprios potenciais presas.
Os tubarões são perseguidos, por pura ignorância ou para a obtenção das suas barbatanas (para sopa e utilização em poções "afrodisíacas" asiáticas) ou mortos por acidente em redes de arrasto, correndo grande número de espécies sério perigo de extinção actualmente.
Com o aumento da população humana e a redução dos cardumes de peixes ósseos, os peixes cartilagíneos têm sido pescados em grande número. Todos os anos se matam cerca de 100 milhões de tubarões e afins, dos quais cerca de 6 milhões são tubarões azuis, mortos apenas pelas suas barbatanas.
Sendo estes animais fundamentais ao correcto "funcionamento" do ecossistema marinho, esta matança deve terminar ou os desequilíbrios podem ser muito graves.
Bem mais dignos de admiração que de receio, os tubarões apresentam comportamentos complexos, revelando-se bem mais que máquinas de matar indiscriminadas, como antes eram descritos.
Um exemplo desse facto é o extraordinário comportamento dos grandes tubarões-brancos sul-africanos, na zona da Ilha das Focas, saltando da água mais de 2 metros (daí a alcunha dada pelos locais de tubarões voadores ou jumping Jacks) para capturar focas mas ignorando outros organismos, nomeadamente o Homem ...
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